Comecei a minha carreira nos anos 1980, ainda quando estudava Engenharia Mecânica em São Paulo. Posso dizer que comecei fazendo alguns estágios em trabalhos que não eram muito atrativos em termos de conhecimentos. Como todo jovem em começo de carreira, eu queria aprender rápido e minha curiosidade sempre foi muito aguçada. Um deles foi muito interessante. Eu fui convidado por um amigo para concorrer a uma vaga de estagiário em uma pequena metalúrgica. Eu não sabia bem qual era o trabalho, mas aceitei e fui nas entrevistas. Pouco tempo depois eu estava contratado. Me lembro bem, em meu primeiro dia, quando me chefe me apresentou a fábrica, pequena mas muito bem organizada, e me deu o meu uniforme. Um jaleco verde com uma logo enorme da empresa estampada no peito. Confesso que me senti empoderado com aquilo, afinal era um marco começar a carreira em algo que estava de uma maneira ou outra conectado com a engenharia.

Logo fui levado ao meu local de trabalho. Era uma área quase VIP na fábrica. Uma pequena sala de uns quarenta metros quadrados, com ar condicionado e que foi especialmente projetada para receber o maior patrimônio da empresa. Claro que este patrimônio não era eu. Tratava-se de uma máquina de usinagem comandada numericamente importada – quase uma Ferrari da metalurgia na época. Ela era linda. Toda verde com painel em LED semelhante a de um Boeing 737. Lindo, maravilhoso. E eu já me imaginei pilotando aquela invenção extraordinária. Mas no primeiro dia eu nem consegui tocar nela, foi apenas um treinamento teórico.

Encurtando a história, no segundo dia eu descobri que aquele maravilhoso painel era protegido por um dispositivo externo à prova de idiotas (que os japoneses chamavam de Poka-Yoke). Eu explico. O painel era praticamente blindado e ninguém podia fazer nenhuma mudança ou apertar nenhum dos lindos botões iluminados. Apenas dois botões estavam destravados, um verde para iniciar o processo e o botão vermelho cujo a função era parar a máquina, em caso de emergência.

O trabalho resumia-se em colocar um bloco de alumínio ou ferro dentro da máquina, fechar a porta e esperar o ciclo. Isso durava uns 12 minutos. Ao final, abria-se a porta e eu retirava uma peça linda, espelhada, perfeita, quase um bebê. Isso se repetia até as 17h30 – fim do expediente. Posso resumir o trabalho com uma única palavra: Entediante. Depois de cinco dias de trabalho, pedi para minha mão lavar o meu uniforme, e o devolvi juntamente com meu crachá. Agradeci o meu chefe pela experiência, me despedi da máquina e fui embora.